Entrevista ao Boletim NPC 80, em dezembro de 2005, durante o 11º Curso Anual do NPC.

Gustavo Codas, jornalista e assessor de Relações Internacionais da CUT nacional, participou, pela primeira vez, do curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, cujo tema, neste ano, foi “Os desafios da comunicação de esquerda no Brasil de hoje”. Codas fez parte da mesa de discussão “Uma Comunicação na América Latina na realidade de hoje”, juntamente com os jornalistas Beto Almeida (diretor da TV SUR) e Gilberto Maringoni (autor do livro “A Venezuela que se inventa”).

Gustavo Codas, na sua participação, falou da importância de construirmos uma comunicação independente na América Latina. “O primeiro a lançar essa idéia foi o general Perón, nos anos 50, na Argentina”, lembrou.

Nessa entrevista dada ao Boletim NPC, Gustavo Codas avalia a imprensa sindical sob a perspectiva de um movimento sindical mais internacionalista. Nesse sentido, ele é taxativo: a imprensa que os sindicatos fazem hoje é “pobre” na abordagem de temas internacionais, e mesmo nos nacionais.

Boletim NPC. Como você vê a abordagem do mundo pela imprensa sindical?

Gustavo Codas. Em geral podemos dizer que a imprensa sindical tem uma abordagem bastante restrita a temas puramente dedicados ao imediatismo das categorias. E desse ponto de vista, como regra geral, eu não descarto que tem exceção, é uma abordagem bastante pobre do que são os temas da conjuntura nacional e mais ainda da conjuntura internacional, e mesmo os temas do mundo do trabalho que não sejam exclusivamente aqueles que dizem respeito às questões imediatas que uma categoria está passando.

Agora, a minha impressão, é que o problema da abordagem é menos um problema dos jornalistas da área dos sindicatos ou dos responsáveis de comunicação e mais um problema político mais amplo que o sindicalismo enfrenta que é justamente de termos um cem números de boletins sindicais de categoria, que em conseqüência retiram, digamos, capacidade de produção de um material com mais fôlego, já que cada sindicato tem um público restrito e tem menos condições financeiras do que se várias categorias de uma cidade fizessem um boletim intersindical, um jornal dos trabalhadores da cidade, etc.

Então, eu acho que a imprensa sindical, vamos dizer assim, é vítima das condições nas quais deve operar. E me dá a impressão que para alterar isso, para alterar essa limitação que a imprensa sindical expressa, somente a gente alterando as condições nas quais a imprensa sindical se desenvolve. E isso significaria, na verdade, os sindicatos mudarem as suas políticas de comunicação a partir de uma mudança mais geral da política dos sindicatos. Eu acredito que os sindicatos colocarão sua comunicação em processo de trabalho mais conjunto com outras entidades quando sua perspectiva política também for essa.

Boletim NPC. Você vê isso também dentro da CUT?

Gustavo Codas. Sim. Eu diria que também no caso da CUT, em todos os níveis e instâncias, você vai ver que em geral há uma abordagem basicamente que diz respeito à agenda sindical imediata. Do que eu conheço, o que está fugindo, digamos, gradativamente desse padrão é a página web da CUT Nacional, onde há por parte da secretaria de comunicação e da equipe de jornalistas um esforço para ir além do que exclusivamente a agenda da sua executiva. Então, eu tenho visto que no último período você pode entrar na página e encontrar material trabalhado, não é apenas reprodução de outros meios de comunicação sobre tantas questões internacionais como nacionais e mais a pauta exclusiva da CUT nacional.

Boletim NPC. Como assessora de relações internacionais da CUT quais os temas que você gostaria de ver abordados na imprensa dos trabalhadores?

Gustavo Codas. Eu acho que a imprensa sindical poderia suprir uma falta de informação hoje existente que se deve basicamente que as fontes que a gente tem são exclusivamente, ou quase exclusivamente, da imprensa burguesa. E como o Chico Buarque diz numa de suas músicas: “a dor da gente não sai no jornal”. Então, os temas do mundo do trabalho para saírem normalmente num jornal da grande imprensa burguesa é uma exceção. Eu entendo que nós temos hoje por intermédio da internet condições, com muito baixo custo, de uma divulgação mais intensa no Brasil de informações sobre lutas que estão ocorrendo em outros países, lutas sindicais, lutas populares, e que seriam a sua divulgação muito importante porque daria para os trabalhadores no Brasil essa noção de uma luta internacional, um processo de mobilização que não é exclusivamente de sua categoria, da sua cidade, mas um processo internacional que efetivamente está ocorrendo.

Boletim NPC. E a utilização das rádios comunitárias pelo movimento sindical?

Gustavo Codas. As rádios comunitárias poderíamos dizer que foram a primeira tentativa do movimento popular de furar o bloqueio da comunicação massiva. Então, novamente no caso das rádios comunitárias eu acho que, primeiro, o grande desafio é vencer a repressão que continua em cima das rádios comunitárias. Dois, vinculá-las de maneira que elas também tenham capacidade de divulgar não somente as questões locais, mas também de forma mais viva e intensa o noticiário nacional e internacional.

Boletim NPC. Existe alguma experiência diferente no mundo, em termos de imprensa sindical, do que se faz aqui no Brasil?

Gustavo Codas. Do que eu conheço é pouco que tenha uma imprensa sindical com padrão diferente. Mas eu acho que isso tenha a ver com o recuo que houve do sindicalismo sob a pressão do neoliberalismo, do desemprego, da desestruturação das categorias, etc. Agora o que nós devemos ficar atentos é que essa fase muito defensiva em relação ao neoliberalismo está mudando, há um processo de desestruturação da hegemonia neoliberal. Então é um bom momento que as direções sindicais e as categorias se coloquem na perspectiva de buscar na área da comunicação de implementar políticas diferentes, políticas mais ofensivas, porque acho que vai ter audiência junto ao povo e aos trabalhadores.