Foto gentilmente cedida por Samuel Tosta
(Beth Carvalho, João Pedro Stédile e Noca da Portela)
Foi no dia 2 de abril, no Teatro João Caetano, na tradicionalíssima Praça de Tiradentes, no Centro do Rio. Não poderia diferente. Com uma roda de samba, repleta de bambas, animada por Noca da Portela e com a presença de Beth Carvalho, os cariocas saudaram o nascimento do Jornal Brasil de Fato. Estava lá gente de todas as idades, de diversos bairros, de várias tribos: movimento popular, estudantes, professores, sindicalistas, militantes de partidos políticos, intelectuais e jornalistas de vários matizes. Do PSTU ao PDT.
Naquele momento os unia a certeza da necessidade de se construir uma imprensa alternativa no Brasil. Além da boa música, o ato contou com a fala de quatro pessoas, amigas íntimas da nova publicação. O coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), Vito Giannotti; o professor da Faculdade de Educação da UFF, Gaudêncio Frigotto; o engenheiro e um dos coordenadores do Plebiscito da Dívida Externa, Sérgio Almeida; e o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile. Sérgio, Vito e Frigotto fazem parte do Conselho Político do Brasil de Fato.
Vito lembrou em sua fala das muitas publicações anarquistas do início do século. Os jornais diários do PCB, na década de 40. A imprensa alternativa dos anos 70 e a nossa gloriosa e numerosa imprensa sindical cutista. Foi buscar em Gramsci e seus Cadernos do Cárcere a inspiração para falar da importância da comunicação na disputa de hegemonia. E nos ensinou como se briga pelo nome de uma publicação. Segundo Giannotti, quando o Partido Comunista Italiano (PCI) rachou, em 1992, o grupo majoritário que viria a criar o PDS (Partito Della Sinistra) abriu não de tudo. Não quis saber do nome e muito menos do símbolo, a foice e o martelo. Mas o nome jornal porém, L`Unitá, ah!, disso, eles não abriram mão. O nome do partido passou a ser PDS, com nova roupa e novíssima ideologia mas com um jornal que se chamava L`Unitá, o nome do jornal do velho partido comunista italiano. O Jornal Brasil e Fato se insere nesta longa trajetória das publicações de esquerda.
João Pedro Stédile estava particularmente inspirado neste dia. Fez um belo discurso. A defesa da arte como forma de comunicação direta e profunda com o povo, e da cultura brasileira como resistência contra a ideologia neoliberal e seu pólo difusor, o imperialismo americano, foram constantes. “Daqui a pouco vocês vão esquecer o que eu e Vito dissemos aqui, mas não esquecerão deste espetáculo proporcionado por Noca da Portela e seus convidados”.
Também não é assim, João Pedro. Eu perdi minhas anotações. Estava mais preocupada em vibrar com a cerimônia e em conversar com minha filha de 16 anos sobre o significado daquele ato do que em fazer matéria para o Boletim do NPC. Mas suas palavras, as de Vito, Sérgio e Frigotto continuam martelando na cabeça. Assim como o sorriso de Beth Carvalho quando abraçou o líder do MST, João Pedro Stédile, continua refletido na retina. Parecia que ela estava abraçando todos os sem-terra deste país. “Este é o nosso país, esta é nossa bandeira…’, cantou Beth.
(Por Claudia Santiago)
TODA SEMANA NAS BANCAS OU POR CORREIO !!
(11) 3333-6244 assinaturas@brasildefato.com.br