[Por Claudia Santiago] O Fórum Social Mundial, realizado em Belém de 27 de janeiro a 1º de fevereiro, reuniu, como em suas outras edições, gente de vários países do mundo que têm uma causa para defender. Pelos prédios das universidades, podia-se encontrar militantes da Via Campesina, bolivarianos, sindicalistas de todas, ou quase todas, as centrais sindicais, vítimas de violência policial, trabalhadores de várias categorias em luta contra o desemprego e a crise mundial, ambientalistas, feministas, defensores da legalização da maconha, adeptos da meditação, críticos do governo da China. A lista não caberia neste boletim. Teve atividades para todos os gostos.
A maior de todas elas aconteceu no Centro de Convenções: o encontro de cinco presidentes latino-americanos que simbolizam a crença de índios, negros e pobres em uma outra América possível e desejável. É claro que há avaliações diferentes e até contraditórias sobre o papel destes novos governantes latino-americanos. Há quem os veja como revolucionários, outros os definem como reformistas socialdemocratas e outros os vêem como um avanço real para seus povos. A novidade é que essas presenças seriam impensáveis há dez anos quando o imperialismo dominava absoluto em toda a América do Sul.
O Fórum Social Mundial não agradou a todos, principalmente aqueles que desejavam uma posição firme contra as várias manifestações do capitalismo neoliberal, do genocídio na Faixa de Gaza, à condenação de todos os efeitos da crise jogados sobre os trabalhadores, passando pelos Estados que criminalizam a pobreza e os movimentos sociais. É nessa linha que escreveu Emir Sader em Carta Maior, “chegaram a Belém angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta”. Para estes, segundo Emir, “ficou a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais’. Na mesma linha vai o dirigente do MST, Egídio Brunetto que viu como um potencial desperdiçado o não encaminhamento pelo Fórum de mobilizações concretas e de uma agenda de lutas.
Que o debate continue, siga franco e aberto. Que todos nós, que, de uma forma ou de outra, construímos este espaço de troca de experiências, denúncias, aglutinações, saibamos fazê-lo ainda mais eficiente como peça na construção de uma nova sociedade. E que as próximas edições nos tragam, como aconteceu em Porto Alegre, pensadores como José Saramago, Eduardo Galeano, Noan Chomsky, Tarik Ali, Daniel Ben Said entre outros. Sem dúvida, encontros como aqueles realizados no Gigantinho, ginásio de esportes localizado no Complexo Beira-Rio, ou no Auditório Araújo Viana, no Parque da Redenção, fizeram muita falta. Estes encontros poderiam ter acontecido no hangar, Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Seriam eles, exatamente, que reuniriam as várias tribos e as fortaleceriam frente ao objetivo comum: um outro mundo possível. Fariam melhor sentir sua força e suas fraquezas.
NPC discute criminalização da pobreza pela mídia empresarial
[Por Sheila Jacob] Na tarde do dia 29 de janeiro, o NPC promoveu no Fórum Social Mundial uma discussão sobre a campanha da grande mídia de criminalização das favelas e da população pobre. Segundo a jornalista Claudia Santiago, coordenadora do NPC, os meios de comunicação comerciais são os principais responsáveis pela banalização da violência policial em comunidades pobres.
“No Rio de Janeiro,
Gizele Martins, estudante de jornalismo e editora do jornal “O Cidadão”, da Maré, fez um relato emocionante do tratamento que a grande mídia dá ao cotidiano das favelas.
“O pobre perde a própria identidade e não pode se assumir como morador de favela, porque logo é chamado de bandido ou traficante. Tive muitas vezes que esconder no meu currículo que sou moradora da Maré para poder tentar arrumar emprego”, relatou.
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