Uma cerimônia religiosa deu início ao ato na Igreja São José Operário, na Vila dos Pinheiros, de onde os manifestantes partiram em caminhada pela Maré. O percurso incluiu as principais ruas das favelas Vila dos Pinheiros, Vila do João, Conjunto Esperança e Salsa e Merengue — que, há quatro meses, sofrem diretamente com a disputa de território entre facções rivais.
Com um carro de som e a percussão do bloco Se benze que dá, a caminhada — com bandeiras de vários países simbolizando a união dos povos — durou duas horas. No auto-falante, músicas religiosas se misturaram a palavras de ordem e a sambas, todos com letras de valorização da paz e da vida. Houve ainda atividades de arte para as crianças, que produziram faixas pedindo o fim da violência.

É muito importante esse tipo de manifestação. Tinha que ter muito mais, uma vez por mês pelo menos seria bom, mas para mudar as coisas tinha que ter mais investimento em educação e saúde, disse o vendedor Wesckley, de 27 anos, morador do Conjunto Esperança.
Buracos de balas nas paredes e cápsulas pelo chão eram os sinais concretos da violência observados durante todo o percurso. O último tiroteio ocorreu na tarde do sábado (19/9). Mas os conflitos se tornaram rotina diária a partir de maio, com dezenas de mortes, embora sem qualquer visibilidade pública ou posicionamento das autoridades. “A situação na Maré é dramática e a repercussão na sociedade é mínima. A grande mídia não reporta o que acontece. Tinham que estar aqui todos os deputados estaduais, federais e os vereadores, pois essa situação é de calamidade pública. O pobre não tem respeitado o seu direito à paz, tem que se mobilizar para conquistá-la”, disse o deputado federal Chico Alencar (PSOL).

Obs.: Esta reportagem é uma produção coletiva de comunicadores populares da Maré.