O primeiro dia do curso, adaptado para o formato online por causa da Pandemia, emocionou e aproximou superando expectativas e dificuldades.

Foto e arte: Joka Madruga

A mesa de abertura começou cheia de emoções, e surpresas! A coordenadora do Núcleo Piratininga, Claudia Santiago, abriu as falas saudando os companheiros inscritos no curso: “Nesse momento tão difícil, é bom a gente estar junto”. Segundo Claudia, o número de inscrições superou as expectativas: “foi uma procura maior do que esperávamos, e estaremos aqui em 190 pessoas, e tem gente se inscrevendo ainda agora”.

Ainda nos momentos iniciais foi mostrado um vídeo especial com fotos de outros cursos anuais, com imagens do saudoso Vito Giannotti ao som de “Bella Ciao”. A mediadora Katia Marko se disse muito emocionada: “Não poderíamos começar esse curso sem cantar Bella Ciao, neste momento do ano que é um respiro pra cada um de nós”. Kátia ressalta que mesmo de forma virtual, o curso é necessário para repensar esse mundo tão complexo e com tantos desafios. 

A primeira mesa do curso foi sobre o tema do evento: “Comunicação e Estado de Emergência”. Giovandro Marcus (UFBA) abriu as discussões. “Falar da comunicação neste momento é um lugar privilegiado para entender essa situação de emergência. É um momento crucial na História da humanidade”, destacou. Giovandro também pontuou que na comunicação há um espaço cada vez mais híbrido. A separação entre realidade e a reprodução da realidade se implodiu. “Estamos na era dos amadores. E o que isso significa para a Comunicação? Uma crise do local de autoridade de fala”, completou. 

Em seguida foi a vez da doutora em antropologia e pesquisadora da área de mídia e cotidiano, Ana Lucia Enne, tomar a palavra. Ela enfatizou a importância de criar um estado de exceção para combater o estado de exceção que virou a regra. Ao mesmo tempo revelou seu incômodo com a expressão “estado de emergência”. “A lógica do estado de emergência é um truque que não nos deixa refletir sobre nada. A lógica da emergência sequestra a gente”, explica. 

“Acho que W. Benjamin estava muito correto. Ele viu a ascensão do nazismo, fascismo, stalinismo, e a ascensão do capitalismo liberal, que vemos crescendo cada vez mais.

E a cultura de massa está totalmente ligada a esses dois processos.”

Para Ana, ainda que seja necessário reconhecer a emergência com que as lutas políticas exigem ser encaradas, é necessário não se deixar levar pela ansiedade de querer fazer tudo rápido, sem tempo para reflexão.

No fechamento da mesa, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Paulo Roberto, reflete sobre como em alguns momentos se criaram sensações falsas de emergência para fins políticos. Ele também apontou para a centralidade da comunicação na sociedade atual. “Pensar a comunicação não é apenas olhar o processo de troca de informação de um ponto a outro. Ela é o solo em que a vida contemporânea se estrutura. Numa sociedade midiatizada não dá pra discutir estado de emergência sem pensar na comunicação. O objeto da “opinião pública” é central para entender que se trata ali, de uma situação de exceção e emergência”.

Ao término do do primeiro encontro os participantes foram para o intervalo ao som da música Geração 70, do cantor Taiguara. 

Oficinas de rádio e mídias sociais

No período da tarde os participantes do curso se dividiram em duas turmas, uma voltada para a Oficina de Rádio, com o presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Maranhão (Abraço-MA), Ed Wilson Araújo, e outra sobre Mídias Sociais com Najla Passos, professora da Universidade Federal de São João del-Rei e do curso do NPC.

Nielton Trindade é radialista no Amapá e sindicalista, ele parabenizou o NPC pelo curso de rádio, e a forma como Ed Wilson deu “macetes” de como fazer uma comunicação de maneira rápida e ágil. Mesmo acostumado com equipamentos de edição mais complexos, para Nielton foi muito interessante aprender a produzir bons conteúdos a partir de ferramentas simples como o Whatsapp, “claro que todos nós da comunicação sabemos trabalhar com editores de áudio e tal, mas esse ganhar tempo e saber passar uma boa informação ficou bem legal”, afirma.

Enquanto isso, na turma de mídias sociais, a participante Clarice Weisheimer também se mostrou muito contemplada com o conteúdo. “Foi fantástico, dicas simples para melhores visualizações, dados sobre algoritmos. A tentativa e erro que é a nossa atuação nas redes. Najla, você é assertivíssima!”. 

Democracia e Estado de Emergência

Para fechar o primeiro dia, a mesa “Democracia e Estado de Emergência” trouxe o juiz Rubens Casara, a historiadora Virgínia Fontes e o sociólogo Jayme Brener. Casara foi o primeiro a falar, comentando que a comunicação reduzida pela racionalidade neoliberal interessa a partir de cálculos de interesse sobre o lucro. 

Ainda em sua fala, Casara comentou, “o bombardeio de informação empobrecida, rasa, é produzido para gerar subjetividade empobrecida e facilitar o processo de dominação e controle. Contra isso temos que produzir a contra-hegemonia, o resgate do comum, aquilo que é produzido por todos nós de forma coletiva”. 

Jayme Brener salientou a ameaça constante sob a qual vive a democracia, “através de mentiras que se contam, pelas fake news, através das realidades fabricadas, se justificam ações absurdas”. 

Como forma de superar tais ataques, Brener fala sobre a necessidade de se apropriar melhor das ferramentas de dominação que foram construídas nos últimos anos, “a internet e os meios eletrônicos são uma coisa importante disso, temos que dominar um pouco melhor e trabalhar isso em defesa da democracia”.

Já Virgínia Fontes lembra que não há capitalismo sem convencimento, mas também não há capitalismo sem violência. Ela denuncia a verdadeira faceta da burquesia, “ a burguesia faz guerras, não está calcada no convencimento e nem na beleza dos seus produtos, mas está calcada no amor ao golpe de 64, no amor aos golpes que aconteceram na América Latina, na ameaça permanente, na chantagem”. 

Ao comentar sobre o processo de educação como caminho para a emancipação, ela contesta esta ideia, “eu não acho que é a educação que vai garantir a emancipação da classe trabalhadora. É a emancipação que vai garantir a educação dos trabalhadores”, afirma Virgínia. 

Texto: Euro Mascarenhas e Amanda Soares