A internet e os desafios que ela traz consigo foram os principais temas discutidos ao longo do segundo dia do Curso do NPC. 

Desde a mesa de debate pela manhã, chegando às oficinas que ocorreram de tarde, muito se falou sobre formas de apropriação das redes, construção de narrativas via mídias digitais, proteção de dados e formas de driblar os algoritmos. 

Mas antes de tudo isso acontecer, os participantes do curso foram brindados com a voz tocante da cantora Raquel Leão, que lançou um EP em 2018, e agora em 2020 lançou dois singles: Bailando e Meu Sangue é Negro. A artista baiana entoou a canção da diva Elza Soares, “Mulher do Fim” do Mundo, e preparou muito bem as mentes e corações dos alunos para o dia de atividades. 

A mesa “Comunicação e Política Digital” foi composta por Adriano Martins, sociólogo e coordenador do CAIS (Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais), e pelo professor da Universidade Federal do ABC, Sergio Amadeu. Jéssica Santos, produtora cultural, ficou responsável pela mediação da conversa.

Abrindo a sua fala, Adriano chamou a atenção sobre a importância de a esquerda ter incidência sobre a sociedade civil, e não apenas fazer o debate institucional e ter prevalência sobre o estado. Para ele, conquistar as mentes e corações das pessoas é fundamental para a consolidação de vitórias institucionais, e citou a força dos movimentos sociais na luta por direitos, “olhando para a história recente do Brasil, vemos que os movimentos sociais foram um fator essencial para a conquista de uma série de direitos”.

Adriano Martins (CAIS) e Sergio Amadeu (UF do ABC) participaram da mesa “Comunicação e Política Digital” .

Em seguida, Adriano mostrou a importância de dominar o espaço das mídias sociais e como ocupar estes lugares para travar um bom diálogo com as pessoas, “a gente tem que ser atento à nossa escuta, ser muito freiriano”, e também destacou a necessidade de trabalhar no meio digital sem abrir mão de outras formas de disputa, “não são só os youtubers que vão salvar o mundo, é preciso estar atento a outros processos políticos. Porém, é preciso saber dominar estes espaços”. 

Em sua fala, o professor Sergio Amadeu destacou 3 crises da comunicação em rede: a crise da rede de distribuição, crise de participação e a crise do livre fluxo de dados, “esse livre fluxo de dados é fundamental para o capitalismo informacional” apontou. Ao mesmo tempo em que trouxe a centralidade das redes digitais para o atual cenário político, Sergio fez um alerta, “nós não podemos ser acríticos em relação a estas plataformas. E tem como reverter isso? Tem! Mas estamos lutando por isso? Não!”.

Todas as mesas têm estado cheias.

Um dos pontos mais importantes da fala de Sergio Amadeu é a neces-sidade da esquerda criar infra-estruturas de comunicação digital próprias, que sejam federadas, “como eu posso enfrentar o algoritmo? A questão é: quanto menos dados você der a ele melhor. E mais, pre-cisamos criar as nossas próprias plataformas”. 

Para Amadeu as plataformas digitais são piores do que os grupos de mídia tradicionais, “nós estamos enfren-tando uma situação em que os inter-mediários são as plataformas digitais. Não é possível abandona-las, mas elas são piores do que a Rede Globo”. 

Segurança nas redes e na cobertura de manifestações

Nas oficinas da tarde as redes ainda continuaram a ser o cerne do dia, o advogado e ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel, abordou os cuidados necessários para uma boa segurança digital. “Não é possível estar 100% seguro, mas quanto mais dificultarmos, mais seguros estamos”. 

Em sua oficina, Guilherme tratou sobre a importância de boas senhas, criptografia, como garantir que o dispositivo eletrônico não seja um aparato de vigilância, além de sites e serviços digitais que não estejam colhendo dados para grandes corporações privadas e governos. 

Enquanto isso, outro grupo aprendia a fazer uma boa cobertura de manifestações com seus próprios aparelhos móveis. O videomaker e documentarista, Vitor Ribeiro, ficou responsável em passar bons programas de edição para celular, e algumas técnicas de filmagem que preservem a identidade dos manifestantes, diante de possíveis represálias por estarem protestando. 

Por: Euro Filho.