– Sobre o curso
O curso de Comunicação Popular do NPC foi criado em 2004, após uma aproximação da jornalista Claudia Santiago com familiares das vítimas da Chacina da favela do Borel, na Tijuca, bairro Rio de Janeiro, ocorrida em 2003. Desde então, formamos, anualmente, dezenas de comunicadores populares oriundos de favelas, periferias e quilombos urbanos do estado do Rio de Janeiro (RJ), assim como de coletivos de comunicação independente e movimentos sociais. Nosso compromisso é com a prática de uma comunicação voltada para garantia de direitos sociais, promoção da igualdade racial, luta contra a violência policial, enfrentamento ao machismo e à lgbtqia+fobia. Uma comunicação feita pelo povo e para o povo e que exista enquanto ferramenta de transformação social.
Coordenação geral: Luisa Souto
Coordenação pedagógica: Claudia Santiago
Local: Rio de Janeiro
Periodicidade: Anual
Apoio: Fundação Rosa Luxemburgo e Sinpro-Rio
Confira as programações dos últimos anos nos links abaixo:
Blog Turma 2024: https://nucleopiratininga.wixsite.com/compopnpc2024
Blog Turma 2023: https://nucleopiratininga.wixsite.com/compopnpc2023
Blog Turma 2022: https://nucleopiratininga.wixsite.com/compopnpc2022
Blog Turma 2021: https://nucleopiratininga.wixsite.com/compopnpc2021
– Jornal Vozes das Comunidades
Ao final de cada turma do nosso Curso de Comuncação Popular, é produzida uma nova edição do jornal Vozes das Comunidades. As publicações são produzidas pelos próprios alunos, desde a elaboração da pauta passando pela apuração e produção de textos. A diagramação é feita por ex-alunos que hoje são profissionais de design gráfico. O lançamento e a distribuição do jornal acontecem sempre no ato Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro.
Clique e confira a versão online de alguns números do Jornal Vozes das Comunidades.
– Depoimentos
O que dizem ex-alunos do Curso de Comunicação Popular do NPC sobre a experiência:
# Julio Lacerda (Julião), Jorge Turco
“Busquei o curso pela aproximação que traria com uma galera envolvida em lutas importantes no Rio de Janeiro, como o Repper Fiell, Gizele Martins, etc. Uma galera mais popular que normalmente não se encontra nos setores tradicionais de esquerda. Via como uma oportunidade de me capacitar mais para as atividades que desenvolvíamos enquanto Bonde da Cultura, no morro Jorge Turco e na relação com os movimentos de luta da cena carioca e com a esquerda de uma forma geral. Também queria me aproximar de Vito Giannotti e do grupo do NPC.
A relação, em especial, do curso com o Santa Marta me chamou atenção. O link existente com os acontecimentos do cotidiano carioca, suas lutas e a articulação com praticamente toda a esquerda, “do rosa ao vermelhão”, como dizia Vito, são importantíssimos nesse curso.
Tenho uma estima muito especial e um respeito grande pelo trabalho do NPC. Aprendi muito na relação com todo o grupo, criei laços de amizade, muitas articulações se abriram a partir dali. Afirmo que a solidariedade foi um princípio ensinado na prática pelo grupo”.
# Gizele Martins, Maré
O curso do NPC trazia várias emoções porque eram experiências de vida. Percebi que eu não sofria sozinha o que eu sofria na favela. Em outras favelas e movimentos também há pessoas que sofrem. E desse sofrimento a gente pode fazer algo melhor pra nossa luta. Aí está a importância do NPC na vida de quem passa pelo curso. Mas não só isso. A comunicação popular dos movimentos do Rio de Janeiro só é comunicação popular hoje porque o NPC teve a preocupação de sair um pouco do lado sindical e vir para o lado popular.
Conseguimos colocar o tema das favelas, das ocupações, das remoções e da militarização dentro do movimento social. Eu não frequento os movimentos sociais hoje à toa. Não estou nas mesas de debate dizendo que a favela tem que falar por ela à toa, mas é porque eu cheguei nesse espaço e conheci os movimentos sociais. A partir daí fui batendo de porta em porta dizendo que eles têm que me ouvir. No curso eu aprendi que a favela tem que falar por si. Óbvio que alguém do asfalto pode falar sobre a favela, mas a questão é que a gente também pode falar e escrever sobre a nossa experiência.
Hoje existe um movimento da comunicação comunitária e popular no Rio de Janeiro enorme. Não que a gente se reúna, mas cada um está atuando no seu formato, com a sua linguagem, mas sabendo que o outro existe e trocando informação. E existe porque a gente se encontrou nos cursos de comunicação popular. O curso vai muito além da formação técnica. É uma formação de vida na luta não só pela democratização da comunicação, mas pela vida dentro da favela e para além do capitalismo. Nossa identidade, nossa autoestima… tudo isso é trabalhado no curso. Pode parecer um pequeno curso de seis meses, mas não é.
# Camila Araújo, Niterói
No curso eu subi favela, mudei minha linguagem – até hoje brigo com ela e insisto em quebrar essa muralha – vivi com gente de tudo que é canto do Rio de Janeiro, gente da América Latina, ouvi histórias fascinantes, histórias de alegria e também de tristeza. A troca é muito especial, a gente se envolve e cria laços, chora e ri juntos.
O curso transformou meu olhar sobre o mundo, sobre a minha concepção de vida e profissão. Enquanto na faculdade de jornalismo eu ouvia os professores ensinando a hierarquia dos critérios de um fato ser notícia, no NPC eu entendia que os critérios de notícia são definidos de acordo com os interesses dos donos dos veículos, ou seja, da elite. O que era noticiado servia a uma classe específica, que não servia aos interesses da classe média e pobre.
O que o NPC deixa claro é que só com uma mídia plural e contra-hegemônica nós podemos mudar nossa realidade. Tem que ter jornais, tevês, rádios e revistas de esquerda, comunitárias e populares que apresentem um contraponto, uma ideologia diferente da mídia comercial para a gente fazer nossas ideias circularem. Não adianta ficar nos auditórios da universidade, do sindicato ou do coletivo, tem que multiplicar, ir para a rua, ouvir as pessoas, contar sobre o que fazemos e porque fazemos.
# Rita Lima, assistente social – Zona Oeste
Lembro de diversos momentos marcantes, mas destaco as conversas com Dona Joana da Cidade de Deus. Outro ponto importantíssimo é a forma de tratamento entre professores e alunos: a solidariedade. Desde o início isso me surpreendeu. Venho de um convívio de ambiente de igreja protestante e ali no curso entendi o real “amor ao próximo”, o amor fraterno.
Além disso, até 2008 não tinha noção de como falar com um público. A forma simples de escrever e falar, as aulas de oratória, ajudaram muito em minha vida pessoal e profissional e pessoal.
Antes eu tinha um olhar preconceituoso, mas com o curso e a convivência com líderes comunitários e alunos tive a grande oportunidade de ampliar minha visão do outro.
# Keila Machado, Niterói
Minha vida mudou. Esse curso me ajudou mais do que tudo a ser uma pessoa melhor. A oportunidade que tive de conhecer uma série de movimentos sociais, sindicais. De pessoas que trabalham para melhorar o mundo. Que vivem para melhorar o mundo. A comunicação pode nos ajudar nessa transformação. Aprendi a importância de fazer uma boa comunicação de esquerda, para lutar contra a mídia hegemônica.
# Rodrigo Barrenechea Bouch (chileno), professor
Um aprendizado do curso que levei para a militância e para minha vida profissional é que é preciso estar inserido na vida real, nos movimentos sociais, para produzir um jornalismo comprometido e de qualidade.
O curso me ajudou a entender melhor a importância da comunicação para os movimentos sociais e populares e que o jornalismo comprometido precisa participar dos movimentos, não pode ser de gabinete. E precisa se aproximar da linguagem do seu público-alvo. Se a grande mídia faz isso, nós devemos fazer o mesmo.
# Carolina Vaz, Maré
Para a vida levo a memória de um grande aprendizado coletivo, “temperado” com muitas risadas, alguns choros, bolos, cafés, almoços, e muito afeto. A dedicação da equipe do NPC é algo muito além do burocrático da organização de evento, é afeto mesmo, é acreditar no que se está fazendo. Para a militância levo o objetivo de nunca deixar de fazer a comunicação que realmente faz a diferença na vida das pessoas.Fazer da comunicação popular uma resistência e também uma afronta à mídia hegemônica, e não complementar a ela. Porque a mídia hegemônica quer mesmo diminuir as trabalhadoras e os trabalhadores, quer colocar as classes “em seus lugares”, quer dar imagem de desnecessária à mídia popular, mas só quem vê a satisfação de um entrevistado criminalizado se ver reconhecido numa mídia sabe a importância que isso tem.
Espero que o curso do NPC nunca acabe, e nem o jornal Vozes das Comunidades, e que as lutadoras e lutadores da comunicação popular do Rio de Janeiro possam se unir e se destacar na comunicação social da cidade. O NPC vai estar sempre ajudando a construir essa história.
# Victor Bravo (Chileno) Santa Marta
Acho que a convivência da turma tem sido umas das melhores coisas do curso. As aulas são muito boas, mas nada é tão bom como o contato e a troca de ideias, reflexões, tristezas e sonhos com as outras pessoas que estão no curso. Talvez escutar e sentir isso seja o acontecimento que mais tem me marcado durante o curso. Participar do jornal Vozes das Comunidades é uma grande oportunidade e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade de colocar as matérias segundo as orientações aprendidas no curso. O tempo todo a gente está escutando a voz do Vito dizendo: “não mais de 22 palavras, porra!”, risos. Mesmo que eu não tenha conhecido ele, acho que seu espírito está presente em tudo o que a gente faz.
Eu sou assistente social. Não sei em que vou trabalhar no meu futuro próximo. Mas tenho certeza de que seja qual for o campo de ação, a comunicação crítica e contra-hegemônica tem que ter um lugar central, em qualquer atividade que a gente se Eu gostaria de dizer que o NPC é, em minha opinião, um dos mais belos e urgentes presentes para qualquer movimento e pessoa que lute pela emancipação da humanidade das faces do capitalismo. Sou infinitamente agradecido.
# Alan Tygel, engenheiro (UFRJ)
O curso do NPC não é um curso de comunicação. Pra mim, foi um curso de vida. Foi onde conheci de verdade a cidade onde morei a vida toda, onde conheci pessoas que me transformaram profundamente. Foi onde se abriram os caminhos para eu me transformar em quem eu sou hoje.