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[Por Reginaldo Moraes] Gutenberg inventou a imprensa em 1450… Ou melhor, a prensa. Em seu primeiro ano de produção entregou uns 200 exemplares da Bíblia. Antes dele, um monge levava um ano para entregar um exemplar – copiado à mão. Em 1500 já havia milhões e milhões de livros circulando pela Europa, graças à engenhoca do “Guto”. Assombroso, não é? Mas era só  o começo.

Uns trezentos anos depois, veio o telégrafo. A palavra viajava mais rápido, gerava a imprensa de negócios, a especulação em tempo quase real. No começo do século XX, o rádio, mensagem transmitida, aí, sim, em tempo real, a léguas do emissor. E para a mensagem do rádio nem era preciso saber ler. Ouvir o noticiário do rádio – emitido em algum lugar distante –  podia substituir o jornal impresso local.  Apenas vinte anos depois do rádio surgiu a TV. São Mateus adaptado: olhos de ver, ouvidos de ouvir. Na terra da TV, entre os primeiros que entenderam o potencial da coisa estavam… os pastores. Jeová surfava nas ondas de rádio e na telinha.

Com a televisão e o rádio, porém, algo se perdia, embora muito se ganhasse. Pense no jornal. O leitor pode folhear, selecionar o que ler, demorar e voltar ao que lera antes. Com o rádio e a TV, não, eles te conduzem. Com a TV se amplia aquilo que alguns chamam de “aquisição incidental da notícia” – saber de algo que você nem estava procurando…  Quase como a estória do fumante passivo.

Bom, mas ainda faltava… a Internet. Nos anos 1990 ela deixou de ser uma rede militar e acadêmica – Arpanet e Bitnet – e se transformou em um espaço aberto ao comércio, manejável através de ícones simplificados, numa tela “amigável”, o navegador. Em 2000, menos de 50% dos adultos americanos usavam a internet. Em 2008, esse índice chegava aos 75%. Em 2000, apenas 50% dos Americanos possuíam celular. Em 2008, eram 82% – aliás, smartfones, não mais simples celulares. Em 2000, ninguém nos Estados Unidos estava plugado através de redes sem fio. Em 2008, esse número chegava aos 62%. O arcanjo Gabriel poderia acessar Maria sem cabos. Judas nem precisaria beijar, bastava enviar um self.

Mudanças dramáticas, mais do que simples aumento de velocidade. A tecnologia separou os jornais do anúncio, da publicidade, do “reclame”. Até um passado bem recente, os jornais podiam ser sustentados pela publicidade. Assim, um “modelo de negócios”, um sistema comercial (a venda de anúncios) subsidiava um outro mundo, com pretensões “educativas” ou “cívicas”, a difusão de informações, entretenimento e cultura. Isso está se desmanchando. Os mais velhos (nem tão velhos) ainda lembram que o jornal da quinta ou de domingo era o jornal dos classificados – empregos, casas para alugar ou vender, automóveis usados, serviços.

Um modelo de negócios e um mundo estão acabando e não é claro qual outro o substituirá. E quando. E em que extensão.

Com a proliferação de fontes de emissão, um outro problema se soma a estes todos: o acesso à informação atingiu níveis muito elevados. A questão, agora, é como identificar qual informação é necessária, útil e… confiável.