[por Sulamita Esteliam] Anúncio produzido pela entidade trata da greve e critica os bancos. Será veiculado em todas as emissoras, menos na Globo. A veiculação foi paga, adiantadamente, o cheque compensado, mas o Departamento Comercial da Emissora vetou a inserção.

Desde domingo, 05 de outubro, e até a terça-feira, 07, está no ar o plano de mídia do Sindicato dos Bancários de Pernambuco para a Campanha Nacional 2008. O VT, de 45 segundos, recupera o lema Banco Mata, critica a ganância dos bancos e explica porque os bancários estão em greve por tempo indeterminado. Será veiculado nas principais emissoras, menos na Globo, que tratou de encontrar um motivo para censurar o material.

A desculpa usada para barrar a veiculação não se sustenta, para não dizer que é ridícula e estapafúrdia. Segundo o contato comercial da Globo Nordeste, o nome do Sindicato teria que ser inserido em caracteres no VT; ou seja, por escrito e por extenso. Ou o Sindicato acrescentava o detalhe, ou o VT não iria ao ar. Isso, a menos de 30 minutos do horário-limite de entregar o material nas quatro emissoras onde se havia contratado o espaço.

Esgotadas as tentativas de diálogo, a Assessoria de Comunicação, com apoio da Presidência e da Secretaria de Comunicação do Sindicato, pediu que a Globo mandasse a condição por escrito, via correio eletrônico, já que o Sindicato não modificaria o VT e o pagamento das inserções já havia sido feito. Adeládio, este o nome do contato, disse que não faria isso, e que o cheque seria devolvido. Fez mais, tentou inverter o ônus do problema, acusando o Sindicato de tentar “esconder o nome”. Que se diga: a assinatura está no áudio, em alto e bom tom. E está na logomarca da entidade, bastante conhecida – e onde se lê “Bancários de Pernambuco” -, que fecha o VT.

“Quero saber se eles exigem do Shopping Recife, ou do Bradesco que escrevam seus nomes por extenso, junto com as marcas”, questiona a secretária de Comunicação do Sindicato, Emerenciana Rêgo – Mereh.

A exigência, que não se encontra em nenhuma lei ou regulamento de veiculação de audiovisual – tanto que as demais emissoras o estão veiculando, sem problema -, na verdade, esconde o verdadeiro motivo da censura: o VT expõe as mazelas e, portanto, a imagem da banca nacional. Não à-toa, o referido contato avisou, durante as diversas conversações para contratar o espaço, que o VT não seria aprovado caso tivesse imagem de fachada de bancos. E é óbvio que teria, e isso foi dito. O texto já havia sido enviado antes da contratação, para todas as emissoras, como é praxe. Mas a Globo – e só a Globo – exige conhecer o VT antes de fechar o contrato, ainda que o pagamento seja feito antecipadamente, a preços de tabela cheia – “as outras vendem desconto, nós vendemos audiência”, retumba Adeládio, o contato local.

O material foi mandado para São Paulo, direto da produtora, via correio eletrônico, para um certo Dido Júnior. Ao que parece, ele é o encarregado de exercer o papel de censor de plantão. Naturalmente que quem dá a notícia ao “cliente” é o contato local. Foi o que fez Adeládio, que veste a camisa global, com gosto. Ele reiterou que “gostaria muito de atender ao Sindicato, mas só posso fazê-lo se vocês corrigirem o VT”. Diante da negativa em atender a exigência absurda da Globo, o contato disse que o Sindicato não entregasse a fita, porque o espaço não havia sido reservado e, portanto, ela não seria veiculada.

Detalhe: na manhã da segunda-feira, 06, o financeiro do Sindicato constatou que o cheque que pagaria as duas veiculações, no jornal local NE 1, edição do mesmo dia, havia sido compensado. A Assessoria de Comunicação do Sindicato voltou a fazer contato com Adeládio. Eis o diálogo:

Assessora – Acabo de saber do financeiro do Sindicato, que a Globo depositou o cheque, e ele foi compensado.

Adeládio – Não era para depositar?

Assessora – Mas você disse, na sexta, que o cheque seria devolvido pois a Globo não iria veicular o VT… Quer dizer que eu posso mandar entregar a fita para veiculação?

Adeládio – Se vocês corrigirem o VT, a gente veicula.

Assessora – Não há nada de errado com o VT. Como é que ficamos, então!?

Adeládio – Vou ligar para o meu financeiro e pedir para restituir o dinheiro.

É assim: a liderança na audiência – e na captação de recursos publicitários, inclusive governamentais – concede a Globo a arrogância de se atribuir poderes de “Imperatriz do Brasil”.

Mas não tem que ser assim: “O Sindicato vai tomar as devidas providências junto ao Procon, ao Ministério Público e a Justiça. A Globo vai ter que responder no âmbito do Código de Defesa do Consumidor e por cerceamento de atividade sindical, sem contar que é uma concessão pública e deve respeito ao contribuinte”, observa Marlos Guedes, presidente do Sindicato. Ele lembra que “cabe processo por danos materiais, uma vez que a Globo tentou impedir que o Sindicato cumprisse seu dever de avisar a população sobre a greve por tempo indeterminado. Felizmente não ficamos nas mãos dela, já havíamos contratado outras emissoras”. Cabe, também, denúncia junto ao Conar, conselho nacional regulador de propaganda, como lembra Mereh. Se vai adiantar alguma coisa já é outra história.

Confira o vídeo em http://www.bancariospe.org.br/popup/video_cs2008.htm 


 

* Sulamita Esteliam é jornalista. Coordena a Assessoria de Comunicação do Sindicato