Por Claudia Santiago

Jean Pierre Page é secretário de relações internacionais da CGT. Ele analisou a greve, onde a CGT teve papel determinante, para o jornal Conquista. Jean Pierre considera que a greve que abalou a França em novembro e dezembro de 95 foi um sucesso, afinal várias garantias para os trabalhadores foram mantidas e outras conquistadas. Entre elas destaca a manutenção do atual regime de aposentadorias para os ferroviários. Para Jean Pierre, a França pode parar outra vez a qualquer momento. Ele afirma que a CGT trabalha para que seja o mais breve possível.

CONQUISTA – Qual foi o motivo da greve de novembro último?
J. PIERRE Na França o descontentamento e a insatisfação social aumentaram nos últimos anos. E isto é fruto da distância cada vez maior entre as promessas feitas pelos vários governos que se sucederam, e da realidade dos assalariados. Hoje, há uma consciência de que é possível fazer outra coisa do que ceder às exigências do mercado financeiro. O pano de fundo da greve é a busca de uma saída à crise do emprego, que explica a tão forte mobilização dos trabalhadores franceses.

C – Quais foram os setores que paralisaram suas atividades?
JP Em primeiro lugar o setor público ou empresas estatais. Na vanguarda encontramos os ferroviários, os metroviários, os rodoviários os trabalhadores do setor do gás e da eletricidade, os trabalhadores dos correios. Também pararam trabalhadores de empresa privadas. Destes se falou menos, mas a sua ação não foi menos importante.

C – Como reagiu a população?
JP – Todas as pesquisas repetiam, sem exceção, seu apoio e sua simpatia ao movimento. Imaginem o que significa a falta total de transportes público, numa grande metrópole internacional como Paris. E isso durante mais de um mês.

C – O que vocês conquistaram com a greve?
JP – A greve forçou o governo e seu ministro Juppé a recuarem

1) o regime de aposentadoria dos ferroviários foi mantido
2) Foram mantidas as aposentadorias especiais para os vários tipos 
    de funcionários da Rede Ferroviária
3) O projeto do governo de reestruturação das estradas de ferro foi congelado
4) Nos outros setores públicos e no setor privado foram conquistadas 
    garantias parecidas, e outras mais.

C – É provável que os franceses voltem a greve?
JP – Assim que a luta foi suspensa começou a aparecer a disposição de retomar a batalha em vários ramos e regiões. Nós da CGT procuramos os meios de prolongar essa ação de forma concreta. O mais rápido possível.

C –  Quantas pessoas estão desempregadas hoje na França?
JP –  Oficialmente são 12, 6% da mão de obra ativa. Mas são cerca de 5 milhões os desempregados. Este número não leva em conta os milhares que se encontram em situação totalmente precárias, sem direitos trabalhistas, sem garantias sociais, etc. Nessa categoria estão principalmente jovens e mulheres.

C – Como a população francesa vê o fim do “Estado de Bem Estar Social”, e a implantação de políticas neoliberais?
JP – O neoliberalismo, a Europa de Maastricht, significam a guerra econômica, as rivalidades que se entrelaçam, inclusive no seio da União Européia. O neoliberalismo significa confrontos financeiros e comerciais. Significa desregulamentação em todos os campos, com efeitos destruidores. O preço de tudo isso é a redução em todos os países de forma brutal, do custo do trabalho, para pretensamente aumentar a competitividade. A única alternativa que sobra é a luta. É totalmente ilusório crer que é possível implementar planos de ajustes estruturais mantendo uma preocupação humanitária.

C – Na sua opinião, como os trabalhadores podem reagir ao neoliberalismo?
JP- Penso que precisamos desenvolver o diálogo, a troca, a cooperação, a partir dos trabalhadores dos vários grupos econômicos, das multinacionais que são os verdadeiros centros de poder. E nisso, inclusive exigindo nossos direitos. Mas também trocando experiências concretas na busca de soluções alternativas entre as várias regiões. Nós devemos, a nível internacional, reivindicar o verdadeiro direito de interferir. A CGT francesa está aberta e luta por esses objetivos. Estamos dispostos, sem exclusivismo algum, a desenvolver e ampliar a busca de lutas comuns, especificamente com o sindicalismo brasileiro, especialmente com a CUT.