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[Por Reginaldo Moraes-NPC] A rede Globo tenta fazer com a morte de Marielle Franco aquilo que fez, com sucesso, em 2013: capturar uma manifestação de esquerda, injetar energia de direita e redirecionar tudo para o roteiro que havia escolhido. Em 2013, foi muito bem sucedida. Uma semana de manifestações de esquerda viraram gigantescas manifestações ultraconservadoras, com direito a espancamento de gente de esquerda ou gente que simplesmente se enganou e saiu com uma camisa vermelha. Muitos de nós não viram isso na ocasião e, pior, alguns continuam não vendo. Pagamos o preço. Muitos também não viram ou não quiseram ver que havia um golpe em andamento. Negaram até o último momento, depois se “conformaram” com o fato aparente de se tratar “apenas” da retirada de uma presidenta.

Agora temos esse assassinato. Para alguns causa revolta e para outros provoca terror. Um amigo, um tanto alienado mas não desonesto, disse-me assim, com a maior boa vontade: o assassinato da vereadora não tem a ver com golpe e política, é apenas racismo, contra ela e o povo que ela representa. Fiquei um pouco desconcertado: não sei como se pode dizer “apenas” racismo. E é claro que os golpistas são racistas, fizeram questão de demonstrar isso até quando montaram o primeiro ministério, lembram? Mas o assassinato tem, sim, tudo a ver com o golpe e com a intervenção militar. E com o plano de esculhambação que nos estão impondo. Garantias civis revogadas, direitos sociais cassados, o país desmontado e vendido aos pedaços.

Não custa lembrar: sim, tem muita gente sendo morta todo dia. E vem de longe, décadas. Quantos massacres ocorreram. Lembram quando a chamada “banda podre” da polícia mandou um recado pro governador Brizola e fez os massacres de Vigário Geral e Candelária? Sim, já eram assim os grupos de extermínio.

Só nestes últimos meses foram assassinados quase trinta ativistas de movimentos sociais. Muitos, como Márcio do MST na Bahia, ou Marielle do PSOL, no Rio. E outros vinte e tantos. E o ano mal começou. Não é acaso, é parte do processo de “higienização” do golpe. E parte de sua estratégia de meter medo e acostumar ao silêncio. Se isso pega, começar a criar liga e confiança no direitismo difuso e desorganizado que hoje se manifesta em mensagens caluniosas atacando a reputação de Marielle. Mas amanhã pode ser transformar em grupo organizado para fazer pior. Se não enxergamos isso, vamos ser engolidos, fatia por fatia, porque essa é a famosa estratégia hitlerista: cortar os inimigos feito salame.  O assassinato de Marielle foi mais do que um atentado contra uma vereadora do Psol, uma militante negra, favelada e lésbica, tudo o que os conservadores odeiam. Foi tudo isso – e foi uma mensagem clara: calem a boca, vocês todos.