A compreensão teórica e operacional do jornalismo sindical gera mudanças tanto na produção quanto nas relações de trabalho dos que atuam nesta área

[Por Marina Valente*] São 17 anos atuando no jornalismo sindical e, nessa estrada, já tentaram me encaixar em diversos recortes da profissão. Isto porque para os que não operam diretamente nessa área e a estudam, é comum encaixá-la como um derivado ou uma parte da assessoria de comunicação semelhante às exercidas em empresas públicas ou privadas. Há aqueles também que nem consideram esta uma forma de jornalismo pois “temos lado” – assim como qualquer outro veículo, só que o nosso é o do trabalhador – e os que consideram um jornalismo menor. A partir daí o termo alternativo ou nanico ganharam uma certa conotação de preconceito e diminuição.

Desta forma, estabeleceram-se muitos equívocos no que entendemos como jornalismo sindical:

  1. Pouco desenvolvimento teórico moderno;
  2. Compreensão de que o profissional se limita a ser um militante;
  3. Inexistência de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) condizente com nossas atuações;
  4. Ocupação do mercado de trabalho como algo temporário ou “alternativo” à inexistência de vagas na imprensa e assessorias tradicionais.

Não sou a única, dentre os profissionais da área, a defender a tese de que é hora da gente conversar sobre a nossa produção e as nossas relações de trabalho.

Mas me permitam dividir aqui como se desenvolve meu pensamento sobre a temática.

O jornalismo sindical não tem base fundadora na academia. Assim como toda a produção jornalística, ele se inicia a partir da necessidade política e social de reproduzir uma informação ou ideia. Mas enquanto nós somos codificados a partir do ideal de “agitação e propaganda” presente na construção do sindicalismo mundial, a grande imprensa vai se codificar aos poucos, através de teóricos que são estudados na academia: a assessoria de jornalismo tem sua base fundante a partir dos ideais de Rockefeller, tendo a primeira agência no Brasil fundada em 1960, e enquanto teoria também passou a ser codificada na academia.

Lembremos que a academia de jornalismo no Brasil foi fundada nos idos da Ditadura Militar e que John Davison Rockefeller era um magnata de negócios norte-americano preocupado com a sua imagem e de sua principal empresa: uma petrolífera.

Por outro lado, o jornalismo sindical foi criado e desenvolvido a partir da luta de classes. Tem como objetivo principal dar voz à classe trabalhadora e às suas pautas de luta. É formado por veículos de disputa ideológica, contrários ao discurso hegemônico do sistema, com ideal declarado, e que muitas vezes, tiveram um papel fundamental em processos de disputa política e revolucionária.

Assim sendo, estamos falando de bases e teorias completamente opostas.

Não é que para o seu exercício, seja dispensada a instrução, teoria e o conhecimento técnico obtidos na universidade, mas que a academia precisa aceitar a existência desse jornalismo, ao invés de encaixotá-lo onde convém e onde ele não possa se fortalecer e florir.

O jornalismo sindical merece o mesmo espaço que ocupa a assessoria de imprensa, o jornalismo político, ambiental, de local, policial, de esporte etc.

Bem como, é preciso desenvolver nosso conhecimento teórico para a realidade atual e resolver problemas relativos à nossa prática profissional.

No jornalismo sindical existe a figura do assessor de imprensa, e dentro dessa assessoria os profissionais atuam inclusive em cargos diferenciados, havendo até mesmo chefias. Mas há também profissionais que atuam em diversas outras questões que mais se assimilam à produção de uma redação de jornal ou agência de notícias.

Somos diversos com realidades diversas. Posso dizer, por exemplo, que quase em nenhuma das minhas relações profissionais atuei no papel de assessora. Já meu marido, atua desta forma. Conheço profissionais que chefiam uma grande redação ou grande agência dentro da própria entidade, outros que atuam apenas na produção de uma TV sindical ou em web jornalismo. E igualmente posso afirmar que muitos deles não se enxergam dentro de relações de trabalho regulamentadas corretamente.

São inúmeros os dirigentes que confundem o papel de profissional militante com o de apenas militante. Além disto, o enquadramento profissional, muitas vezes realizado nas CCT’s de assessoria torna a contratação correta de profissionais impraticável para as entidades e outros movimentos sociais, o que gera deformidades e irregularidades.

Notícias chegam que o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (SINDJORBA), pretende organizar os profissionais para a criação da primeira convenção ou acordo para os jornalistas sindicais. No Ceará, temos, pela primeira vez, a pasta de diretoria sindical voltada para jornalistas sindicais, comunitários e da imprensa de resistência. São sinais de otimismo para o fortalecimento do jornalismo sindical e de seus aguerridos profissionais.

Ansiosamente espero pela proliferação deste debate e pela compreensão teórica do jornalismo sindical como uma ramo específico do jornalismo, que merece respeito, pela longa trajetória, tamanho, capilaridade social e exigência de conhecimento profundo técnico, econômico, jurídico, filosófico e social.

  • Jornalista Sindical da Metamorfose Comunicação, apresentadora de rádio e Diretora de Profissionais de Mídias  Comunitárias e Alternativas do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce)