(Fausto A. Barreira Filho)
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Filme: Uma Onda no Ar
Diretor: Helvécio Ratton

O filme se parece mais com um documentário com cenas dramatizadas, sendo, na verdade, a dramatização de uma história real. O nível de informação sobre uma dada realidade é muito alto (característica do documentário), já a parte ficcional é pouco desenvolvida. Ficamos sabendo de todas as peripécias envolvendo o personagem principal para conseguir que a rádio pirata da favela fosse legalizada. Das perseguições da polícia ao prêmio dado pela ONU. Tomamos conhecimento também do cotidiano da favela, do tráfico, dos sonhos dos jovens que lá habitam e do papel que a rádio exerce na comunidade. E mais, do contato do protagonista com outra realidade social (no colégio) onde é discriminado. Algumas cenas retratam a violência policial. Outras, revelam o nível de consciência dos personagens, ao identificarem como ladrões as pessoas aparentemente honestas das classes abastadas.

Talvez tenha faltado ao filme um maior desenvolvimento dramático das relações entre os personagens. O filme não apresenta muitas nuances, é muito preto no branco; temos os jovens do bem e os jovens do mal. Apenas resvala na descrição do intrincamento das relações sociais na favela. Não é à toa que um dos jovens que ajuda na consolidação da rádio seja evangélico. Ou que o outro que opta pelo tráfico acabe morto. O músico que é assassinado num tiroteio entre traficantes é o personagem mais interessante, com mais vida, e poderia ter tido um melhor aproveitamento na trama. Enfim, como informação de um fato mais que relevante (o processo de legalização de uma rádio comunitária) é ótimo. Como ficção, poderia ser melhor.

Obs.: esta crítica contém todos os cacoetes que acometem muitos críticos de cinema que decretam no papel o que é bom ou o que é ruim; não consegui evitá-los, foi o que saiu. Espero que o leitor leia a crítica com olhos críticos.