O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 13 de maio de 2021.
Para criar uma rádio basta adquirir um transmissor, equipamentos e uma outorga do Ministério de Comunicações do Brasil. Simples, não é? Não. Infelizmente, para garantir que uma rádio seja legalizada, uma equipe de comunicadores passa por diferentes impasses. “Isso porque, há interesses do Governo de ter várias rádios comunitárias, principalmente de Igrejas Evangélicas, nas comunidades interioranas, e sobretudo de impedir que a oposição tenha o mesmo direito”, explica José Luiz Moraes, coordenador geral da RádioCom e apresentador do programa Nativismo Sem Fronteiras.
“A vida, para quem faz rádio comunitária, está cada vez mais difícil. Já era assim, inclusive nos governos do PT, mas as excessivas medidas baixadas do período do golpe do Michel Temer (MDB) até agora com Bolsonaro (sem partido) querem dificultar as renovações de outorgas”. Quem diz isso é Ed Wilson, presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Maranhão (Abraço) e membro da Agência Tambor.
O programa 6 e Meia do NPC, apresentado pela jornalista Claudia Santiago e com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, que foi ao ar no dia 13 de maio, conversou com os dois radialistas e também com Solon Venâncio, pesquisador do INPE e secretário de comunicação e cultura do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT), onde atua desde 2014.
Os entrevistados falaram sobre suas experiências e dificuldades nas rádios comunitárias nas quais atuam. O encontro entre Pelotas (RS), São Luís (MA) e São José dos Campos (SP) nos mostra quão bonita continua a resistência dos diferentes comunicadores pelo país.
“Por questões políticas tivemos dificuldades e sofremos vários reveses. Algumas vezes tivemos a rádio lacrada e colegas responderam junto à Polícia Federal”
Com 20 anos de existência, a RadioCom é uma rádio comunitária formada exclusivamente por sindicalistas. O objetivo dos organizadores é expressar as ideias dos sindicatos e movimentos sociais parceiros. Mas não apenas, os programas buscam fazer um contraponto, de forma democrática, às temáticas debatidas na cidade.
O coordenador geral, José Luiz Moraes, que começou a trabalhar na área da comunicação em meados dos anos 60, no interior do Rio Grande do Sul, explica que até 2008 a rádio não era legalizada pelo Ministério das Comunicações. “Por questões políticas tivemos dificuldades e sofremos vários reveses. Algumas vezes a tivemos lacrada e colegas responderam junto a polícia federal”.
Entretanto, aguentaram o tranco e há treze anos obtiveram a outorga. O radialista explica que a rebeldia foi importante não apenas para colocar a rádio em funcionamento, mas, ao buscarem por um transmissor — principal equipamento de uso — mais potente, garantiram que o conteúdo chegasse a mais trabalhadores.
A programação da RadioCom é de dar inveja a muitos radialistas. Com a grade de horários de 7h a 00h, até as madrugadas são preenchidas e alegram, com boas músicas escolhidas pela equipe, a vida de um insone. A diversidade, garante José, é grande. “Tem o programa Nativismo Sem Fronteira, que eu apresento; o programa Contraponto, com entrevistas e comentários, que gerencia a área de política com muita informação importante; muita cultura com músicas que vão do Hip Hop ao MPB, entre outros”, explica. São ao todo sete coordenadores e todas as decisões são debatidas nas plenárias e em um conselho com representantes das organizações parceiras.
Durante a pandemia, a rádio também chegou às plataformas virtuais do Facebook e YouTube. Duas pessoas, uma em cada turno, revezam a condução funcional da rádio no estúdio. Além disso, em parceria com a TVT, Brasil de Fato e outras equipes de comunicação, programas são retransmitidos em outros canais de notícias, para que cada vez mais a informação ultrapasse as fronteiras do Sul para outras regiões do país.
“A programação sobre política é fundamental, visto que somos um sindicato. No entanto, também damos espaço à cultura”
Para quem prefere as redes sociais como espaço de atuação, há as web rádios. Essas não precisam de licença e têm como aliadas a possibilidade de utilização de imagens durante a transmissão via YouTube, por exemplo. Este é o caso da Rádio CT, da qual Solon é o responsável. Em seu início, com apenas um único programa de generalidades, as equipes de comunicação do INPE e CTA dispunham somente de uma pequena mesa de som analógica para a gravação do programa.
Atualmente, já com novo equipamento e convênio com programas de televisão, como a TVT (emissora educativa outorgada à Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho, entidade cultural sem fins lucrativos, mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região), o secretário de comunicação do Sindicato conta que a rádio funciona 24h. “Um de nossos programas, o Brasil Com Ciência, filmado por uma câmera fixa e hospedado no YouTube, é transmitido na TVT e em uma TV comunitária da cidade via TV a cabo. O programa busca apresentar a Ciência a partir de conteúdos acadêmicos e crítico”.
Além deste programa, a emissora também é reconhecida pelo Sindicato da Cultura. “A programação sobre política é fundamental, visto que somos um sindicato. No entanto, também damos espaço à cultura. Neste programa quem está à frente é um radialista e músico jovem da cidade, o Rafael Rodrigues, que conhece a juventude do meio artístico da região”.
Segundo Sólon, apesar das dificuldades em manter as atividades durante a pandemia, os programas que cobrem a temática de cultura são um sucesso entre os internautas.
Web rádio e seus desafios
“Montar uma web rádio é relativamente simples. Entretanto, caso ela não tenha conteúdo relevante e uma equipe para manter o dia a dia, há grandes chances de se perder em um cenário de múltiplas ofertas de conteúdos da internet”. Ed garante que o desafio é conquistar um público fiel para consumir a programação.
O presidente da Abraço-MA conta que apesar dos três anos da Agência Tambor, a equipe, atualmente com oito pessoas, realizou um planejamento que durou cerca de um semestre, com reuniões e seminários. “Foram mais seis meses para construir um plano estratégico tanto da rádio como da articulação para alcançar o público e montar a grade de programação”.
O seminário, inclusive, foi fundamental para a escolha do nome Tambor. Ed relembra: “O instrumento, tambor, é utilizado pelos indígenas e quilombolas como ferramenta de comunicação quando há perigo de invasão ou ameaça. Mas também nas celebrações dos grupos”. A inspiração para o nome da agência também veio da literatura acadêmica: o escritor Marshall McLuhan diz que o rádio é um tambor tribal. E assim a equipe nomeou a agência.
Ainda durante a conversa com os radialistas, foi resgatada a importância de parcerias entre as rádios comunitárias. O programa 6 e Meia no NPC, por exemplo, além de transmitido em seus canais, em parceria com os programas ali presentes, estava sendo retransmitido para um público mais amplo que o de costume. Mesmo que os governos boicotem as rádios comunitárias, as equipes de radialistas resistem e insistem por uma comunicação comunitária mais crítica.
- Fabiana Batista é jornalista
- Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em Antropologia