[Por Dayse Alves] Aconteceu no dia 3 de maio de 2024, uma sexta-feira, a oficina “O que é o G20?”, para entender os meandros desse fórum de cooperação econômica internacional, que surgiu em 1999, com a participação de jornalistas, comunicadores comunitários e qualquer cidadão interessado em conhecer sobre esse importante bloco que reúne chefes de estado das vinte maiores economias do mundo. Completamente gratuita, a atividade foi uma parceria com o Núcleo Piratininga de Comunicação- NPC, o Centro de Estudos e Pesquisas Brics (Brics Policy Center) e da Rede Jubileu Sul.

Além de jornalistas e comunicadores comunitários, o evento contou com a presença, local e online, de representantes de diversos segmentos da sociedade civil organizada, alunos do Curso de Comunicação do Núcleo Piratininga de Comunicação, e também de estudantes universitários que durante 3 horas participaram do debate sobre esse importante bloco geopolítico que reúne as 20 maiores economias do mundo e vem realizando diferentes ações ao redor do planeta. 

A oficina foi balizada na pesquisa e aprofundamento do tema desenvolvido em parceria pela ABONG, pelo Centro de Estudos e Pesquisas Brics (Brics Policy Center) e pela Rede Jubileu Sul, que gerou o “Caderno para entender o G20”, um relatório que traz informações relevantes e contundentes sobre a atuação, alcance e poderes do G20, e também compõe parte de pesquisa acadêmica das professoras Ana Garcia e Marta Fernández.

Cláudia Santiago, diretora do Núcleo Piratininga de Comunicação – NPC, fez a recepção e abertura da oficina, apresentando os tópicos que orientariam o debate, também colocando seu ponto de vista acerca da importância desse conteúdo às vésperas da realização do encontro do G20 no Brasil. A composição da mesa também contou com as professoras universitárias Marta Fernàndez, da PUC-Rio, Ana Garcia, da UFRRJ, e Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul. Três atuantes docentes e lideranças que realizam pesquisas ligadas às relações internacionais, à economia, à política e ao desenvolvimento social, entre ouras frentes de trabalho.

Apresentando o G20 como um espaço de disputa, foram colocadas questões para reflexão, “para quem é o G-20”? “A quem interessa”? “Para quê foi criado”? Alguns desses questionamentos foram respondidos pelos convidados à mesa, que explicaram e detalharam o perfil desse grupo global que, em tese, apoia o crescimento e o desenvolvimento mundial por meio do fortalecimento da arquitetura financeira internacional, visando oportunidades de diálogo sobre políticas nacionais, cooperação internacional e instituições econômico-financeiras internacionais.

Nos lembrou também que estamos em meio a duas grandes guerras, Rússia x Ucrânia, Palestina x Israel, onde os Estados Unidos não estão mais isolados na mediação dos grandes conflitos internacionais. A China seria atualmente uma importante potência mediadora, mas também não daria conta dessa liderança, e haveria uma crise de hegemonia em curso. 

Contextualizando, a professora Ana Garcia nos lembrou sobre o pós-guerra, em 1945, quando os Estados Unidos eram a liderança global, sua moeda, o dólar, foi adotada como referência nas transações econômicas, e tinham a primazia no acompanhamento da desigual acumulação de riquezas que geram crises sazonais, uma característica do modelo capitalista. Atualmente, não há moeda que substitua o dólar como referência nas transações econômicas mundial, e a maior acumuladora de dólares em reserva internacional seria a China.

O encontro que ocorrerá no Brasil, em novembro deste ano, além da reunião política dos grandes líderes globais, a chamada “Cúpula do G20”, trará também uma novidade, introduzida pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, o “G20 Social” e, também a denominada “Cúpula dos Povos”. 

 O G-20 chega ao Brasil com uma infinidade de pautas, a principal meta ainda é a questão financeira, onde estarão discutindo a taxação global, a dívida mundial e a questão dos bancos internacionais.

Em que pese o aporte econômico do G20, atuando no apoio, crescimento, e desenvolvimento mundial, por meio do fortalecimento da arquitetura financeira internacional, via oportunidades de diálogo sobre políticas nacionais, cooperação e instituições econômico-financeiras internacionais, o grupo é informal, não há líderes, existência jurídica, sede própria, nem mecanismo de monitoramento, controle e fiscalização sobre o que é deliberado, decidido e lançado no relatório final que, não raro, pode terminar em dissenso, na prática não existir, como ocorreu em 2023, na Índia.

A professora Sandra Quintela, economista e educadora popular, trouxe para os presentes a seguinte reflexão: “há uma barreira para que o aprofundamento das decisões da Cúpula do G20, de fundo econômico e político, que interferem na vida dos seres humanos, não seja democratizada”? A economia e a política interferem na luta de classes, o povo precisa entender e saber o que está sendo debatido e decidido, que impacta no seu futuro.

A quem interessa o G20? Saímos de uma pandemia e a pandemia só aumentou o número de bilionários, enquanto vivenciamos o aumento da violência doméstica, o aumento da fome, da desigualdade, etc.

Ela nos lembrou também sobre os resultados da pesquisa realizada pela Oxfan Brasil, “O relatório da Fome”, mostrando que a concentração de riqueza, e a dívida pública que joga o dinheiro dos pobres nas mãos dos ricos, continuam em pleno curso. E que, na mídia burguesa, lemos e encontramos somente a visão daqueles que estão no topo da pirâmide da economia. Também a informação de que no cenário político atual, estão tentando aprovar, no Brasil, uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que flexibiliza e permite que os valores mínimos de investimento na Saúde e Educação, que já são pequenos, sejam ainda menores. Segundo os “especialistas”, que estão à frente dessa PEC, o governo brasileiro “gasta demais” com essas pautas. Há uma normatização, no mínimo um descaso, com a perda de direitos civis, trabalhistas e previdenciários, por parte da mídia profissional, representada por oligarquias tradicionais do setor. 

Por outro lado, cerca de 30% do PIB global estão nas mãos de apenas três fundos de investimentos, e essa lógica, concentração de riquezas e exploração desenfreada de recursos naturais, utilizando mão de obra barata, o capitalismo exacerbado, se repete no Brasil, sem a preocupação com o bem estar social. Por exemplo, no sul do país, onde atualmente eventos climáticos estão deixando muitas cidades sob inundações, os pampas gaúchos foram destruídos pelo cultivo gigantesco de soja, empreendimento privado, cuja área cultivada é maior que o país da Alemanha. As matas ciliares, que são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal nativa, que ficam às margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas, também são destruídas, na sanha exploratória do agronegócio. 

Também nos grandes centros urbanos as mazelas advindas do modelo capitalista, que também têm a influência de decisões globais, de interesse econômico e financeiro, promovem várias e graves rupturas. Uma pesquisa da Unicamp, mostrou que 30% dos trabalhadores de aplicativos trabalham até 80 horas por semana. Esses e outros assuntos foram mostrados e debatidos na oficina.

Há uma necessidade, urgente, de uma agenda informativa à população, de organizar as bases, formar o pensamento crítico da sociedade civil acerca do encontro do G20, dos temas abordados e dos seus reflexos na vida das pessoas, dos cidadãos. Aprendemos também que o G20 funciona na base do consenso onde é necessário que haja combinação de ideias e metas entre países.

Finalmente, no Rio de Janeiro, dando continuidade ao tema “Entendendo o G-20”, haverá a Reunião do Comitê Rio em 15/05/2024, a partir das 16h, no SIMPRO-RJ, centro da cidade, onde ocorrerá a 2° plenária para a construção da participação das organizações civis e do Estado nessa importante cúpula, visando construir reivindicações de fato e de direito. 

Algumas imagens do evento:

Fotografias: Lauro Sobral 

https://fullretratum.com/

Para aprofundar mais sobre o assunto acesse:

https://nucleopiratininga.org.br

JSB

https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/assuntos/g20-brasil-2024