Na mesma noite, assembleia na comunidade reiterou a intenção de ficar
Por Comitê Popular da Copa e Olimpíadas
Uma manifestação com cerca de 20 pessoas na porta da Prefeitura do Rio, ontem, mostrou que a Prefeitura do Rio não tem limites na tentativa de legitimar a remoção da Vila Autódromo. Os poucos presentes se diziam representantes de 150 famílias que querem sair, mas na mesma noite acontecia mais uma assembleia dos moradores que lutam contra a remoção. A Comissão de Moradores, que ainda não passou por todas as ruas, já reuniu 198 assinaturas de famílias que desejam ficar na Vila.
Nos últimos meses, a Prefeitura do Rio vem colocando agentes diariamente na comunidade para convencer os moradores a sair, inclusive com a presença constante do sub-prefeito Tiago Mohamed. Não haveria, portanto, motivo para qualquer tipo de manifestação a favor da remoção, já que é a própria Prefeitura que deseja tirá-los dali. Moradores relataram que agentes da Prefeitura teriam viabilizado dois ônibus para levar os moradores à Cidade Nova. Pessoas que estiveram no local perceberam que a manifestação não se passava de uma encenação para a TV Globo, que fazia a cobertura.
A Comissão de Moradores da Vila Autódromo está programando atividades reais para mostrar o que vem acontecendo na comunidade. Uma delas será uma missa no domingo, dia 10/11 às 9h, celebrada pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani, na comunidade.
Vila legal > A comunidade Vila Autódromo possui título de concessão de direito real de uso, além de estar há pelo menos quatro décadas no local. Argumenta-se que seria necessária a remoção para os Jogos Olímpicos, mas o projeto oficial desenvolvido pelo escritório de arquitetura inglês AECOM prevê a comunidade urbanizada como legado das Olimpíadas. Além disso, há um projeto popular de urbanização desenvolvido por arquitetos e urbanistas da UFF e da UFRJ e moradores, que mostra a compatibilidade dos Jogos a existência da Vila.
Prefeitura quer remoção completa > A assessoria das universidade demonstrou que proposta apresentada pela Prefeitura para os que querem permanecer é tecnicamente inviável. No novo desenho, não há previsão de acesso às vias locais da comunidade e problemas de drenagem causados pelo Parque Olímpico não são resolvidos. A prefeitura também resiste em afirmar publicamente que a comunidade será urbanizada. Muitos dos que afirmam querer sair reclamam de problemas causados pela negligência de prefeitura na área.
Terra nobre > A comunidade Vila Autódromo se localiza na área de maior valorização da Barra da Tijuca e que vai ser o centro dos Jogos Olímpicos. A parceria público-privada que a Prefeitura do Rio assinou com as empreiteiras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken prevê a transferência mais de 1 milhão de m2 para o consórcio após os Jogos. No terreno serão construídos condomínios e hotéis de luxo, como consta no edital de licitação. Parte da área da Vila Autódromo faz parte da PPP e seria repassada às empreiteiras.
Prefeito de remoção > Eduardo Paes é conhecido na Barra da Tijuca e Recreio da época em que era sub-prefeito, nos anos 90, por comandar remoções violentas na região. O atual prefeito do Rio de Janeiro, em números absolutos, é o que mais removeu moradores de favela na história da cidade; já são 65 mil desde 2009. Pelo menos 14 comunidades não existem mais. Há muitas denúncias de violação de direitos, com indenizações ínfimas ou inexistentes, tortura psicológica e remoções ilegais. As informações estão num dossiê entregue em mãos ao prefeito pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas.