No primeiro semestre de 2005, a Regional Norte do sindicato lançou o projeto CinEletro, uma exibição mensal de filmes ou documentários seguida de discussão sobre temáticas que afetam diretamente os trabalhadores e a sociedade como, relações de trabalho e de poder, direitos humanos, violência e preconceito de raça, gênero e religião, dentre outras questões. Agora, foi a vez da Regional Metalúrgica abraçar o projeto e, junto com a Regional Norte, dar um grande passo para a consolidação da proposta da nova diretoria do Sindieletro de ampliar a política permanente de formação e cultura com atividades e debates para uma maior aproximação e integração com a categoria.
O lançamento pela Regional Metalúrgica aconteceu no último dia 09, no Anel Rodoviário, com a exibição do documentário “Ônibus 174”. Marcelo Borges, diretor de Cultura do Sindieletro, lembra que o objetivo é ampliar a atividade para as demais Regionais. “A nova direção do sindicato tem a percepção de que é importante ocupar todos os espaços de reflexão e se apropriar da cultura para formar, mobilizar e se aproximar da categoria. O CinEletro cumpre este papel de uma forma lúdica e leve”, ressalta.
Provocação para o debate
O diretor de Formação do sindicato, Lúcio Parrela, considera que o maior avanço é que o projeto, mais do que ser um espaço de reflexão, possibilita a exposição de vários olhares sobre as temas abordados. Para ele, o resultado é muito rico e positivo para a formação política da categoria, pois os próprios filmes envolvem os participantes e provocam o debate. “Geralmente, as pessoas têm suas verdades muito estabelecidas e com o CinEletro várias verdades vêm à tona. Com isso, é possível enriquecer ainda mais a discussão e até mesmo criar novos olhares”, destaca.
Na avaliação do assessor de Formação do Sindieletro, José Luiz Fazzi, o espaço de reflexão criado pelo CinEletro lembra muito o Movimento de Educação Popular desenvolvido no país nas décadas de 1960 e 1970 e que inspirou Paulo Freire a construir sua teoria de que a educação se constrói a partir do conhecimento do educando. “O movimento era um espaço de discussões muito democráticas, em locais com estruturas mínimas. A reflexão acontecia até mesmo debaixo de árvores. Ninguém era dono do saber, as pessoas eram provocadas para a discussão e todos podiam expressar suas opiniões”, lembra.
Outro olhar
Mais do que expor o espetáculo da mídia na cobertura do seqüestro de um ônibus no dia 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro, a morte de uma refém e o assassinato do seqüestrador pela Polícia Militar, o documentário “Ônibus 174” contextualiza com a história de vida de Sandro do Nascimento, um sobrevivente do massacre da Candelária mas não das injustiças e do ódio. Os trabalhadores do AR que assistiram saíram da sessão com um outro olhar sobre a realidade dos meninos e meninas de rua.
“Percebi que nós temos que fazer alguma coisa para transformar nossa sociedade tão injusta. Ainda estamos refletindo sobre como agir, mas, com certeza, a alternativa virá do coletivo. Geralmente, nos trancamos em um mundo que se resume em Cemig, família e amigos, mas a vida não é só isso”, avaliou a agente de processo comercial, Giovana Carla da Silva. “A reflexão nos aproximou ainda mais e reacendeu o sentimento de que nós é que somos responsáveis pelas mudanças para outro mundo possível”, destacou o diretor de base no AR, Sérgio Luiz de Campos.
Para o ex-menino de rua e técnico de distribuição, Roberto Flosino, o documentário possibilitou que as pessoas acrescentassem novas visões sobre a vida de crianças e adolescentes nas ruas, mas é preciso tomar o cuidado para que a reflexão não fique no discurso. “A temática não é nova, é, aliás, uma realidade histórica que se impõe para todos nós no dia-a-dia, está bem debaixo de nosso nariz quando andamos nas ruas. Portanto, se comover, apenas, não basta. É preciso colocar a mão na massa para mudar esta realidade”, cobrou. Há cerca de 30 an
os Flosino fundou a Associação Esportiva Casa Grande, uma entidade que atua na formação educativa, esportiva e profissional de meninos e meninas pobres.