claudia_3

[Por Julia Broens] Em entrevista, a jornalista e coordenadora do NPC Claudia Santiago fala sobre a sua trajetória na comunicação sindical, a importância dessa experiência, a comunicação dos sindicatos hoje, a relação internet x comunicação impressa, as mudanças no mundo do trabalho e sobre como a comunicação pode ajudar os sindicatos a enfrentar os desafios que estão colocados. Confira na íntegra!

  1. Qual é a sua trajetória com a comunicação sindical?

Claudia Santiago. Grande. Enorme. Eu já comecei atuando como gente grande (rs). Em 1988 me tornei jornalista da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Rio de Janeiro, onde fiquei até julho de 2007 quando fui demitida. A carga horária dos jornalistas é de 5 horas, o que me permitiu trabalhar também em outros sindicatos, como Previdenciários, Ecetistas, Petroleiros do Rio, Federação dos Trabalhadores da Aviação e outros que não me lembro agora. Saí da CUT num dia, no outro comecei a trabalhar na Federação dos Trabalhadores em Educação do Estado do Rio de Janeiro. Em seguida assumi a coordenação do Departamento de Comunicação dos Sindicatos dos Trabalhadores da UERJ (Sintuperj). E prestei sérvio a tantos outros que ficariao cuparia muito espaço.  Lembro-me de cabeça da Federação dos Engenheiros (RJ-ES), do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, do Andes, da Fenasps. Sindicato dos Urbanitários de Do Distrito Fdereal, SindCT (São José dos Campos), Sindicato dos Docentes da Universidade de Feira de Santana. É uma longa trajetória.

  1. No 3 Seminário Unificado de Imprensa Sindical, em 2015, você diz que não consegue falar em imprensa sindical, e sim em comunicação sindical. Diante da sua experiência, qual a diferença entre os dois? Por que?

Claudia Santiago. Então, imprensa era na época que a gente fazia os jornaizinhos do Sindicato, os boletins. Essa época passou. Com o tempo os sindicatos começaram a usar vídeo, rádio. O jornalismo sindical não era mais só imprensa. Eu não abro mão do impresso. Acho burrice. Para mim, nada substitui a presença do dirigente sindical nos locais de trabalho, conversando com os trabalhadores e com um papel na mão. Isso não significa que não vamos ter programas de rádio, de TV, e usar tudo o que a Internet nos proporciona para nos comunicarmos com os trabalhadores. Qual a diferença? A mesma de namorar pelo Tinder e “na cama, na grama, na lama”, como diria Gonzaguinha.

  1. Você considera que atualmente os sindicatos fazem imprensa ou comunicação sindical?

Claudia Santiago. Alguns só fazem impressos; outros usam todos os meios. E há ainda os que não se comunicam.

  1. Qual a importância da comunicação sindical, para além da imprensa sindical?

Claudia Santiago. O lema do Núcleo Piratininga de Comunicação é “comunicar com todos os meios e falar para milhões”. É muito importante usar tudo. Agora, com um estilete você pode ferir mortalmente um passarinho, mas não um leão. Precisamos saber o que queremos com cada instrumento. Fala com a juventude? Youtube, aplicativos, redes sociais e jornal. Falar com meia idade? Aplicativos em telefones celulares, redes sociais, rádio e jornal. Aposentados?  Aplicativos em celulares e jornal. E tudo vai depender da categoria. Conversar com jornalistas não é o mesmo que conversar com rodoviários. Os primeiros trabalham sentados e lidando com informações que chegam de todos os cantos. Os outros têm que prestar atenção no trânsito. Logicamente a informação chega a eles de diferentes maneiras. Ah! Mas todos vêem televisão à noite.

  1. Qual a relevância da comunicação digital para a comunicação sindical?

Claudia Santiago. A mesma importância da máquina de lavar roupa para a administração de uma casa. Já pensou ter que encarar um tanque cheio de roupa suja? Duro, né? Pois é, eu encarei muita tralha para fazer uma filmagem que hoje é feita pelo celular. Liberei fotolitos de madrugada com filha bebê no colo. Hoje, o programador visual do Núcleo Piratininga de Comunicação mora em Lisboa. Isso seria impossível sem o mundo digital. Facilitou muito. Acabamos de criar a Teia de Comunicação Popular do Brasil. Ela funciona totalmente pela Internet. É muito importante. Muito rápido. Atinge muita gente.

  1. Quais os desafios hoje da comunicação sindical?

Claudia Santiago. Fazer-se importante em um mundo totalmente dominado por milhões de informação por segundo. É muita informação. E totalmente desconectada uma coisa da outra. A gente sabe de tudo e não sabe nada. O desafio da comunicação sindical é conseguir organizar uma narrativa coerente, prazerosa, ancorada na realidade e que ao mesmo tempo atraia os trabalhadores e os ajude a pensar e chegar às suas conclusões sobre que mundo querem para si e seus filhos.

  1. Em que sentido a comunicação pode ajudar o sindicato a enfrentar os seus desafios?

Claudia Santiago. Em praticamente todos os sentidos, senão todos. Qual o principal desafio de um sindicato? Trazer pessoas para o sindicato. Sindicalizar. Como fazer isso sem comunicação. Outro desafio: explicar perdas e ganhos. Como fazer isso sem comunicação. Convidar pessoas para as atividades do sindicato. Mobilizar para uma ação. Fazer a ligação entre questões específicas e gerais da classe. Nada disso pode ser feito sem comunicação. Nem mesmo convidar para uma partida de futebol, uma festa de final de ano ou avisar de um novo convênio assinado, um acordo que irá beneficiar a categoria ou uma proposta patronal que resultará em prejuízos. Nada se faz sem comunicação.

  1. A comunicação sindical está acompanhando as mudanças no mundo do trabalho, a exemplo do crescimento do trabalho informal? Como pensar a comunicação sindical diante das atuais relações de trabalho?

Claudia Santiago. A comunicação depende da política definida pelo sindicato. Se o sindicato entende que os trabalhadores informais são trabalhadores, a comunicação do tema vai tratar desse assunto. Se a direção do Sindicato que ganhar os terceirizados para a sua causa, eles estarão na pauta. Se a direção só se preocupa com seu umbigo, ou seja, com suas questões específicas, ainda não entendeu os novos tempos. Tempos difíceis em  que o celetista de hoje pode estar terceirizado ou no mercado informal amanhã. No geral, acho que acompanha, sim, as mudanças no mundo do trabalho. Talvez por isso desprestigie o impresso, por achar ver que as concentrações de trabalhadores mudaram. Mas esses estão errados. Tem que comunicar com todos os meios e falar para milhões.

  1. Na sua opinião, quais são as perspectivas da comunicação sindical diante da atual conjuntura dos sindicatos?

Claudia Santiago. Muito boa. Os sindicatos vão valorizar a comunicação mais do que nunca. Sem imposto sindical, ou aumenta a sindicalização e a participação, ou fecha as portas.