O símbolo da mão em “L” que marcou em 2002 a vitoriosa campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva não é uma novidade deste ano. Sua origem remonta a primeira disputa, em 1989, e tem início no Paraná. Em entrevista ao jornal Folha de Londrina, reproduzida abaixo, o jornalista paranaense Mário Milani, idealizador do símbolo, conta um pouco dessa história.
Na entrevista, Milani avalia que o marketing de campanha do PT amadureceu muito com as três tentativas frustradas de assumir o poder na última década. Ele lembra que, quando idealizou a mão em L , numa alusão a Lula, usou o corpo para criar o símbolo com objetivo de fazer uma campanha “custo zero” para o candidato Lula. Fizemos assim por causa da falta de recursos. Aliás, não recebi por esse trabalho, não cobrei , conta o jornalista de 46 anos, formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Hoje, mais dedicado à área de informática e tecnologia, Milani continua ligado ao PT, partido no qual milita desde seus dias de estudante. Nascido em Cambé, ele chegou a ser candidato a vice-prefeito de Cascavel em 1986.
O jornalista diz que o símbolo da mão em L extrapolou fronteiras locais e internacionais. Ele acredita que sua criação ainda vai ser a grande parceira do presidente porque ela agrega pessoas, e as pessoas da América Latina já começam a enxergar em Lula o verdadeiro líder do continente. Criei o símbolo cercado de estudos do não verbal , diz Milani. O gestual mostrou sua força na campanha quando artistas, intelectuais, sindicalistas, políticos e gente simples do povo começaram a se cumprimentar. A marca gestual foi divulgada numa campanha também a custo reduzido, via Internet, para uma listagens de 12 milhões de e-mails , acrescenta. Leia a seguir a entrevista.
Folha – Como foi elaborada e trabalhada a idéia do L ?
Mário Milani – Pensei em usar o corpo como veículo de comunicação para divulgar a candidatura Lula presidente, em 1989. Na primeira concepção, achava que uma campanha custo zero seria a grande sacada para quem não tinha grandes volumes de verbas. O (Fernando) Collor (candidato pelo PRN) mandou até fazer vídeo nos Estados Unidos para usar na campanha. E nós tínhamos que usar toda a força da criatividade. Em outras campanhas, caso de 1994, quando Jorge Samek, hoje deputado federal eleito, foi candidato a governador, eu trabalhava como roteirista, cinegrafista e editava os programas eleitorais de madrugada. Mas para chegar à idéia do símbolo, criei toda uma concepção da simbologia e das suas conseqüências. Pesquisei na área da semiologia (a ciência dos signos), de gestos, da comunicação não-verbal. Eu tinha uma projeção clara do que ia acontecer com a marca. Inicialmente, é um cumprimento, mostra solidariedade. Depois, vira um gesto ritual. No momento em que o cidadão faz o gesto, ele literalmente incorpora a idéia. Quando elaborei todo o material gráfico, não era para ser apenas acessório de campanha, mas sim, deveria ser a marca global com todas as suas variantes de aplicações durante o processo eleitoral. Agora é símbolo exclusivo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva que, por sinal, é o único político da América Latina com um gestual próprio.
Folha – Como você fez para fazer a primeira divulgação do símbolo?
Milani – Fiz uma manual de pichação e os petistas militantes pintaram o Brasil com a mão, símbolo do Lula. Antes porém, levei a criação para o Encontro Nacional do PT e disputei um concurso do partido, em 1989, que deveria escolher a marca oficial do candidato petista. A coordenação de campanha acabou optando pelo trabalho mais profissional de uma agência de propaganda. Por isso, corri por fora, quase sozinho. E o símbolo gestual só aconteceu de fato quando elaborei o manual e distribui, através das coordenações estaduais, para todo o Brasil. Em uma reunião em São Paulo, eu já era coordenador de marketing no Paraná da campanha, coordenadores de 22 estados levaram o livreto que ensinava todos os passos para fazer a propaganda do Lula com custos reduzidos. Deu certo porque o pessoal não tinha material impresso e passou a confeccionar as máscaras e a pintar os muros, viadutos, tapumes, etc e tal. A idéia consistia de um teaser, propaganda feita em duas etapas. Para gerar curiosidade, na primeira etapa, pintava-se somente a mão em forma de “L”. Logo, na segunda etapa, completava-se o “ula”. Funcionou legal. Posteriormente, o Lula em suas andanças pelo Brasil começou a ser cumprimentado por pessoas comuns fazendo o gestual. Era como dizer sem falar: “Eu estou com você!!”. Cumprimento fraterno, entre amigos. A minha intenção era que a propaganda não custasse nada. Até passei a chamá-la de propaganda custo zero. No Paraná, como coordenador de propaganda da campanha Lula, fiz todo o material gráfico, inclusive produzi um vídeo onde o mote principal se alinhava para o não verbal. O documentário de 12 minutos foi vendido em fitas VHS para todo o país. Era uma forma de levantar finanças para a campanha. Afinal, foram feitas muitas peças: adesivos, cartazes, panfletos. O símbolo pegou definitivamente quando fiz alguns scripts para o programa de TV onde artistas famosos falavam um texto e faziam o gestual. Em razão disso fui citado em algumas reportagens, inclusive em uma referência importante no livro “Notícias do Planalto”, de Mário Sérgio Conti. Ele diz no livro que a partir da entrada do símbolo, a campanha Lula Presidente ganhou uma nova cara. Daí a marca passou a ser usada espontaneamente pelos e
leitores em todas as eleições que Lula disputou. Agora em 2002, além de várias peças publicitárias, criei o “Comitê Virtual Lula Presidente”. Toda a divulgação com a “mão” foi feita via internet. Mandei várias mensagens por e-mail para uma listagem de cerca de 12 milhões de internautas, sempre recomendando que a marca poderia ser usada e adicionada em materiais impressos e sites. A marca se espalhou nos grandes centros e em lugares mais remotos do Brasil. E em cada local, os militantes e simpatizantes da campanha Lula passaram a confeccionar peças com o símbolo gestual do Lula.